Uma causa comum de desconforto e dores abdominais são hérnias da parede abdominal. Muitas vezes as pessoas desconhecem este diagnóstico ou não percebem a causa da dor, com frequência considerando doenças digestivas e retardando seu tratamento.
Cerca de 10% das pessoas no Brasil têm algum tipo de hérnia. Além da dor e limitação frequentemente associados com a presença das hérnias, há também aspectos econômicos e sociais já que um número expressivo de portadores desta doença apresenta limitações ao trabalho e realização de atividades físicas.
As hérnias são definidas como um orifício na parede abdominal que permite a passagem de órgãos e gordura abdominal. Anel herniário é nome dado para este defeito na parede do abdome, ele pode ser de tamanho variável. No entanto, não se pode dizer que haja relação entre as dimensões do anel herniário e a maior ou menor quantidade de sintomas. O abaulamento, a protusão que aparece junto com a hérnia é chamado de saco herniário. O saco herniário e a principal causa de desconforto e queixas do paciente principalmente os de grandes proporções, porém também é importante lembrar que grandes sacos herniários não necessariamente se associam a grandes defeitos na parede abdominal.
As hérnias ocorrem em pontos de fraqueza da parede abdominal ou em locais de incisões cirúrgicas previas. Algumas hérnias são congênitas já se apresentam ao nascimento nestes locais de fraqueza, porém na vida adulta o surgimento de hérnias pode também ocorrer nestas regiões devido a condições predisponentes que levam a aumento da pressão abdominal ou que causam enfraquecimento do abdome. Estas situações na vida adulta mais frequentes são gestação, obesidade, esforço para evacuar (obstipação intestinal), esforço para urinar (problemas de próstata) e envelhecimento. Também é sempre conveniente lembrar que pessoas que têm o hábito de fumar apresentam maior incidência de hérnias.
Todas as hernias abdominais podem estar associadas com complicações de gravidade variável. Hérnias são uma das principais causas de obstrução intestinal. Isto pode ocorrer porque quando o intestino, a gordura de dentro do abdome ou qualquer outro órgão abdominal entrar no saco herniário de forma aguda causando dor. Esta situação é conhecida como encarceramento herniário agudo. Uma condição mais grave que pode decorrer do encarceramento agudo é a hérnia estrangulada. Nesta situação há interrupção do fluxo de sangue para o intestino causando necrose e perfuração intestinal com evidente risco de morte. Estas situações exigem cirurgias de urgência. Portanto, toda pessoa que tem hérnia e passa a sentir dor aguda, com frequência associada a vômitos e dificuldade para evacuar ou eliminar gases deve procurar atendimento médico de urgência.
Existem vários tipos de hérnia, algumas mais frequentes que outras, algumas são assintomáticas de pequenas dimensões encontradas em exames de rotina. Os tipos mais comuns são estes: hernias umbilicais, epigástricas, inguinais e incisionais.
Hérnias umbilicais são muito frequentes, ocorrem na cicatriz umbilical, a grande maioria das vezes são pequenas e assintomáticas, muito comumente são congênitas.
As hérnias epigástricas ocorrem na região central do abdome entre o final do tórax e a cicatriz umbilical, são menos comuns, mas podem ser dolorosas mesmo que pequenas.
As hérnias que geram mais sintomas são as inguinais que ocorrem através do canal inguinal ou diretamente pela parede abdominal nesta região. Também são as hérnias congênitas mais frequentes. Esta apresentação é a que está mais associada a ocorrência das situações de urgência, como encaramento e estrangulamento citados anteriormente.
São chamadas de hérnias incisionais todas as hérnias que ocorrem em alguma incisão cirúrgica prévia em qualquer região do abdome.
A maior parte das hérnias são diagnosticadas durante um exame médico de rotina não sendo necessários exames para sua comprovação. Em situações especificas o médico pode considerar necessária o auxílio de algum exame subsidiário. Os exames mais frequentemente solicitados são a ultrassonografia de parede abdominal, de regiões inguinais, tomografia ou ressonância de abdome. A tomografia com frequência é utilizada para avaliação do real tamanho da hérnia para orientar o tratamento cirúrgico.
A cirurgia é o tratamento das hérnias abdominais, não existe medicação que resolva este problema. Analgésicos, cintas abdominais são medidas paliativas para melhora do conforto dos pacientes enquanto se programa uma cirurgia. O procedimento cirúrgico idealmente deve ser realizado eletivamente, com preparação correta. Algumas doenças pré-existentes, não só aumentam a ocorrência de hérnias bem como podem levar a um índice maior de problemas no pós-operatório. Frequentemente a obesidade e doenças pulmonares devem ser muito bem avaliadas antes da cirurgia. Pacientes obesos são orientados a perder peso. Fumantes devem parar de fumar. Esta é uma maneira de reduzir complicações e também as chances de recidiva.
As cirurgias para hérnia são chamadas de herniorrafias ou hernioplastias o grau de complexidade varia de acordo com a localização, tipo e tamanho da hérnia. Estes procedimentos podem ser realizados por cirurgia convencional ou técnicas minimamente invasivas (videolaparoscopia). Telas sintéticas são utilizadas frequentemente no reforço da parede abdominal, esta indicação dependerá principalmente da localização, tamanho e idade do paciente.